Quando se fala em reinos, logo todos pensam nos reinos europeus, ricos e poderosos. Mas a África abrigou diversos reinos também importantes, como o Egito, por exemplo.
Você já ouviu falar dos reinos africanos? Por que eles são importantes para nós brasileiros? Vamos ver?
Antes de começarmos, é importante lembrar que havia uma pluralidade de povos e de organização das sociedades na África. Existiam desde pequenas aldeias até grandes impérios e cidades-Estados.
Texto 1: Reinos Africanos
Reino de Axum
No território onde hoje fica a Etiópia, no passado existiu um dos reinos africanos mais prósperos e influentes. Era o Reino de Axum. A população que ali vivia era proveniente do sul da Península Arábica, e já no século VII a. C. tinha domínio sobre a agricultura e criação de gado.
Localização dos reinos africanos. O Reino de Axum está na cor laranja.
A posição às margens do Mar Vermelho possibilitou que cidades do reino, como Adúlis e Axum, tivessem importantes portos. Eles comercializavam produtos como marfim, ouro, sal e pedras preciosas com regiões da Arábia, da Índia, do Mediterrâneo e com outros reinos africanos.
Gana
Um dos reinos africanos que mais tiveram destaque foi o de Gana. Localizado entre o Sahel e a parte ocidental do Sudão, Gana começou a surgir no século IV. Um povo chamado soninquê começou a se agrupar para defender-se dos berberes, populações do deserto que atacavam e saqueavam aldeias.
A união política e militar das aldeias de soninqueses permitiu que eles passassem a controlar o comércio que vinha do norte. No século seguinte, Gana se firmou como um reino. Além de dominar as rotas comerciais da região, extraía uma quantidade enorme de ouro de territórios próximos.
Era tanto ouro que eles se tornaram o principal fornecedor do Mediterrâneo por vários séculos. Viajantes do século XI relataram que a população usava o metal em pulseiras, colares, nas armas e até em enfeites nos cães que ficavam no palácio real. Por tudo isso, Gana ficou conhecido como o reino do ouro.
O Estado era organizado de forma que o soberano tinha funções administrativas, militares e de justiça. Ele era chamado de gana, que significa “senhor da guerra”. Tanto a capital quanto o reino receberam essa mesma denominação.
Esse reino africano prosperou até o século X, quando começou a ser atacado por almorávidas (berberes convertidos ao islamismo). As tentativas de conversão dos soninqueses só provocou ainda mais conflitos. A consequência foi a desarticulação comercial de Gana.
Mali
No século XIII, quando o reino de Gana já estava desarticulado, vários clãs mandingas se uniram sob a liderança de Sundiata Keita. Ele expandiu os domínios do seu povo e constituiu o que foi chamado de Império do Mali. Sundiata adotou o título de mansa (rei) e tornou-se o soberano desse reino africano.
Localização do Império do Mali.
As áreas conquistadas pelo mansa eram ricas em sal e ouro. Além de dominar a venda desses produtos, também passaram a controlar várias rotas comerciais transaarianas que passavam pela região.
Foi justamente por essas rotas que o islamismo chegou até o povo mandinga e passou a se difundir por suas cidades. Durante grande parte da duração do Império do Mali, a região muçulmana conviveu de forma tolerante com os cultos tradicionais da região.
A partir do século XV, no entanto, o Mali passou a sofrer uma série de invasões de povos que queriam assumir o poder. O mais importante deles era o povo songai, que mesmo compondo parte dos domínios de Mali, detinha um importante centro comercial e certa autonomia.
Mandingas
Nessa altura você já deve estar se questionando sobre o que esses mandigas tem a ver com a mandinga que conhecemos no Brasil, não é? Pois não é só uma coincidência! Na época em que a população do Mali já seguia o islamismo, eles utilizavam as bolsas de mandinga.
Eram saquinhos que continham versículos do Corão e eram carregados no pescoço como amuletos que forneceriam proteção contra armas e doenças. Com o tempo, a prática se difundiu pela África subsaariana e foi aumentando de tamanho e de ingredientes.
Elementos fetichistas e cristãos passaram a ser guardados como amuletos por diversos povos africanos. Foi essa bolsa que se difundiu no Brasil colonial e acabou agregando, aqui, novos significados ligados a macumbas e feitiços.
Iorubás
Diferentemente dos reinos africanos anteriores que eram formados por um povo predominante, os iorubás eram várias populações do mesmo tronco linguístico. Eram os efãs, ijexás, egbás, entre outros povos que habitavam a atual região da Nigéria e do Benin.
Além do idioma, eles tinham traços culturais e religiosos em comum. Eles estavam organizados em cidades independentes entre si, mas todos acreditavam que elas tinham uma mesma origem divina. As principais cidades eram Benin, Oyo e Ilé Ifê.
Assim como os reinos já mencionados, as cidades iorubás também controlavam rotas comerciais. Nesse caso, eram aquelas que iam do litoral para o interior da África. Além disso, eles tinham grandes conhecimentos na metalurgia, que era utilizada na fabricação de armas, instrumentos e obras de arte. As cidades também possuíam importantes centros de artesanato, com presença de tecelões, marceneiros e ferreiros.
Um último aspecto a ser tratado é que esses povos têm sua história ligada à do Brasil, e por isso é ainda mais importante conhecê-la. No século XVIII, após vários conflitos com Portugal, grande parte da população iorubá foi traficada para o Brasil e escravizada.
Essas pessoas trouxeram consigo várias tradições e elementos culturais que resistiram à escravidão. Alguns exemplos são orixás do candomblé, como Xangô e Iemanjá. Pratos como vatapá e acarajé também são de origem iorubá, além de instrumentos musicais como o atabaque e o agogô.
Congo
O último dos reinos africanos que vamos abordar é o do Congo, que ficava localizado na parte equatorial do continente. Ele era formado por vários povos que possuíam o mesmo tronco linguístico, o banto. Mas, da mesma forma que os iorubás, isso não quer dizer que existia uma unicidade entre eles.
No início do século XIV, o povo ambundo, do tronco linguístico banto, formou uma cidade que seria chamada de Mbanza Congo. Quem estava em seu comando era um rei que recebia o nome de manicongo (senhor do Congo). A cidade tomou grandes proporções, e chegou a abrigar cerca de 100 mil habitantes.
Com o tempo, o reino do Congo se expandiu militarmente e conquistou um território enorme, que hoje corresponde a países como Congo, Angola e Zaire. A região era dividida em seis províncias e cada uma delas controlava várias aldeias. O poder das famílias fundadoras das aldeias foi preservado para que não houvesse revoltas que prejudicassem o reino.
FONTES:
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Livro Por Dentro da História 2, Pedro Santiago, Célia Cerqueira e Maria A. Pontes